<body><script type="text/javascript"> function setAttributeOnload(object, attribute, val) { if(window.addEventListener) { window.addEventListener('load', function(){ object[attribute] = val; }, false); } else { window.attachEvent('onload', function(){ object[attribute] = val; }); } } </script> <div id="navbar-iframe-container"></div> <script type="text/javascript" src="https://apis.google.com/js/platform.js"></script> <script type="text/javascript"> gapi.load("gapi.iframes:gapi.iframes.style.bubble", function() { if (gapi.iframes && gapi.iframes.getContext) { gapi.iframes.getContext().openChild({ url: 'https://www.blogger.com/navbar.g?targetBlogID\x3d30818736\x26blogName\x3dO+livro+dos+livros\x26publishMode\x3dPUBLISH_MODE_BLOGSPOT\x26navbarType\x3dBLUE\x26layoutType\x3dCLASSIC\x26searchRoot\x3dhttps://o-livro-dos-livros.blogspot.com/search\x26blogLocale\x3dpt_PT\x26v\x3d2\x26homepageUrl\x3dhttp://o-livro-dos-livros.blogspot.com/\x26vt\x3d-8113587172936006675', where: document.getElementById("navbar-iframe-container"), id: "navbar-iframe" }); } }); </script>
O livro dos livros

Histórias e revisão de histórias, por Eliz B. 

21 junho, 2009


O livro das continuações

# xxii
.

Sou vulnerável às coisas e ao nome das coisas. Por isso inscrevo-me no corpo e, como repetição, marco-o com sinais que desejo mostrar. Uso-me, sem discrição. Cá dentro, sem os imponderáveis das remessas tardias e da correspondência transviada, creio que a sociedade não muda por exortação. Evito a narrativa dos exemplos e das encomendas, não sou capaz de empolgar-me com isso. Permaneço quem sou, sozinha e habitada. Porque o calor das tardes voltou, tento esconder-me no chão e padecer aí, como os animais. Esfrego-me no soalho e demoro-me em contacto com a pele, a refrescar, a assumir a culpa, sem necessitar de esboçar sentimentos que não tenho. Canso-me da morte, não consigo gostar de cemitérios. A mágoa não me aflige, articulo-a em devesas, às vezes em palavras, nunca em abismo com fundo demasiado profundo. Prefiro o mal à vista, a dor domiciliada em vez de perdida ou sem paradeiro. Prefiro a superfície, a ferida ou a fractura exposta, o que não está oculto nas coisas ou no nome das coisas. Com frequência engano-me nas sequências. Há muito tempo que deixei de memorizar números de telefone. Já esqueci o teu. Agora, se quisesse falar contigo, teria que consultar a agenda. O calor não me permite tal vontade, é terapêutico. Admito a espera, o que no caso é um modo de continuação. Longe de ti sinto-me justa. E sem desejo ou necessidade de regressar. A hemorragia interna foi estancada. O período de convalescença terminou. Mudei de vícios.

referência

07 junho, 2009


O livro das continuações

# xxi
.

As vozes endoidecem-me. Tenho consciência de que me repito. Os sonâmbulos têm mãos também. Esta associação, vozes e mãos de sonâmbulos, é livre. Talvez seja uma perseguição. Admito que sim, a conjectura é plausível. _____ As coisas dividem-me. Prendo-me a elas para as disputar e separar-me mais de mim. A inveja é apenas mais um ângulo da minha presença. __________ Continuar é uma maneira de cair. Agora vivo em queda livre e magoada, sem outra vez. Tenho os lábios esquecidos no medo, um beijo pronunciado neles como rumor ou murmúrio. Nenhuma palavra, nenhum gesto. Os amantes amam devagar, com culpa, são assim. _____ Às vezes desejo esconder o corpo - escondê-lo, mais do que recolhê-lo -, fazê-lo passe-partout da ausência que tento. _______________ Deixei de fazer o casting cardíaco do costume. Agora obedeço ao impulso, entrego-me para partir. Do abandono ao resgate, o movimento da identidade pelo qual sou é o afastamento. A ausência faz parte do meu processo de reflexão e inflação. Tenho as mãos moídas de tanto agarrar-me. A tua forma desvaneceu-se delas, encheram-se de liberdade, incêndio e horto também. O modo como as integro no meu corpo, sem o louvor da falta, é a consequência mais evidente disso. Sofro a sensação de pertencer às paredes, como se o que é permanência em mim fosse a minha identidade e não um desvio. É esta intimidade com a matéria que me funde na necessidade. _____ Sigo o perfil irregular dos frutos, acompanho-me. A poesia não é saída ou entrada, é um caminho. Eu prolongo-me por trajectos diferentes, em manobras de perda e distância. Apesar de ser verdade, digo isto como se fosse verdade. Afasto-me, dobro-me no exílio. Puxo o corpo mais para mim, para fechar as vozes. Mas continuo apenas. Sou a morada das vozes. Continuo.

referência

2006/2022 - Eliz B. (danada composta e padecida por © Sérgio Faria).