<body><script type="text/javascript"> function setAttributeOnload(object, attribute, val) { if(window.addEventListener) { window.addEventListener('load', function(){ object[attribute] = val; }, false); } else { window.attachEvent('onload', function(){ object[attribute] = val; }); } } </script> <div id="navbar-iframe-container"></div> <script type="text/javascript" src="https://apis.google.com/js/platform.js"></script> <script type="text/javascript"> gapi.load("gapi.iframes:gapi.iframes.style.bubble", function() { if (gapi.iframes && gapi.iframes.getContext) { gapi.iframes.getContext().openChild({ url: 'https://www.blogger.com/navbar.g?targetBlogID\x3d30818736\x26blogName\x3dO+livro+dos+livros\x26publishMode\x3dPUBLISH_MODE_BLOGSPOT\x26navbarType\x3dBLUE\x26layoutType\x3dCLASSIC\x26searchRoot\x3dhttps://o-livro-dos-livros.blogspot.com/search\x26blogLocale\x3dpt_PT\x26v\x3d2\x26homepageUrl\x3dhttp://o-livro-dos-livros.blogspot.com/\x26vt\x3d-8113587172936006675', where: document.getElementById("navbar-iframe-container"), id: "navbar-iframe" }); } }); </script>
O livro dos livros

Histórias e revisão de histórias, por Eliz B. 

03 agosto, 2008


Livrete dos anjos sujos

# xii
. As mulheres têm direito às lágrimas, mas não é por isso que eu choro, disse ele a um circunstante, que, percebendo-o homem e perplexo por isso, afastou-se rapidamente, para não ser incomodado por quem considerou louco. De facto, Rodolfo Hoffmann padecia de síncopes recorrentes e, consequência disso, desorientação identitária. Mas o problema não era apenas ele não saber quem era, era também os outros darem-lhe sinais contraditórios sobre si. Se havia quem não estranhasse a sua personalidade e não suspeitasse o chumaço das asas que lhe enchia as costas, tratando-o como a outra pessoa qualquer, havia quem e não raro o olhasse de soslaio e evitasse, por ele ser uma criatura bizarra. Daí que, para acautelar a sorte das suas interacções, para além de pronunciar o nome, chamo-me Rodolfo Hoffmann, rótulo que, por parecer-lhe demasiado contingente e esquisito, considerava não ser suficiente para garantir a sua identificação, ele anunciasse aos outros as suas ocupações profissionais, e dedico-me a ofícios prosaicos, catering e circuncisões, de modo a que, pela apresentação de tal distinção, fosse reconhecida a sua normalidade. Porém a cadência das síncopes de Rodolfo Hoffmann continuou e, como os outros - para quem passou a ser o anjo ou o gajo sincopado, consoante o soubessem ou não soubessem anjo -, ele continuou a não saber quem era.

referência

02 agosto, 2008


O livro das continuações

# xii


Sou do equinócio outonal, da falência de setembro e depois, quando o tempo torna áspero. O verão é uma demora que sofro, não sou seu resort. Imagino o centeio quebrado, as sombras a nascerem nas searas e nas casas caiadas de branco. Sinto o calor a apertar-me a respiração, a quietar-me. Talvez seja sob a luz do estio que mais revelo a fuga em que me consumo. No verão recuo até recolher-me dentro de mim, onde descubro começarem as vertigens. À noite é diferente, mas as noites de verão não são autênticas. Durante o verão não se diz acentuado arrefecimento nocturno, o regime é distinto. Os cheiros são mais soltos, vagam devagar, como se perpetuassem o tempo, produzindo um efeito semelhante ao cigarro com que me acompanho. Não sei, é estranho. O verão faz-me andar lentamente e voltar para trás, para o abrigo telúrico das tardes. O que faço?, espero o outono, o meu ofício. Espero-o sozinha, para a insídia ser perfeita, a continuação.

referência

2006/2022 - Eliz B. (danada composta e padecida por © Sérgio Faria).