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O livro dos livros

Histórias e revisão de histórias, por Eliz B. 

30 março, 2008


Livrete dos anjos sujos

# x
. Durante muito tempo houve quem aventasse que ele era um vampiro. Porém, não obstante a sua aparência estranha e pálida, Isaak Ward não era vampiro ou próximo disso. Percebendo a gravidade da dúvida sobre a sua identidade, um dia decidiu esclarecer a comunidade, de modo a evitar os prejuízos para a sua honra decorrentes do equívoco. Sei quem é Lestat e quem é Nosferatu, começou por dizer a uma audiência vasta, o que não constituiu o melhor princípio da sua defesa. Pelo que, de imediato, acrescentou a elucidação seguinte, mas nem sou noctâmbulo nem sou hematófago, e abriu a boca, para mostrar a sua dentição. Os dentes eram semelhantes aos de qualquer mortal, alguns com cárie e nenhum afilado extraordinariamente. Em seguida, após fechar a boca, retomou a declaração de defesa, para além disto, apresentando as provas derradeiras que negavam a sua condição vampiresca, em razão do meu ofício de fotógrafo, lido frequentemente com sais de prata e, posso exibir uma declaração médica que atesta o facto, tenho fobia a protector solar, não à luz do sol. Dito isto, ali, Isaak não tornou a ser motivo de estranheza, excepto depois da sua morte, quando lhe perceberam nas costas algo que nunca havia sido suspeitado, um par de asas, cujo envelhecimento tinha feito definhar entretanto.

referência

23 março, 2008


Livrete dos anjos sujos

# ix
. Eva Ladouceur era diferente dos outros anjos. A maioria ilude a sua condição angélica para não suscitar a curiosidade incómoda dos outros. Ao invés, como se fosse um pavão, ela experimentava gáudio ao exibir e sacudir publicamente as respectivas asas. Não passava despercebida. E por isso, mais por admiração do que por ultraje, havia quem a chamasse ave rara. Se lhe notavam a beleza, notavam-lhe também as ausências demoradas que, de quando em quando, em intervalos espaçados, aconteciam. Em parte porque, como referido, ela não era discreta, mas em parte maior porque após reaparecer, quando tornava a usar as ruas como pódio para a sua formosura, surgia remoçada. Foi à recauchutagem, acusavam as mais ilustradas pelas séries televisivas e pelas revistas com reportagens sobre as oficinas e as práticas de estética corporal, a gaja tem um pacto com o demónio, pronunciavam as outras, para quem nenhum homem logrou pisar a lua e nenhuma mulher pode rescindir as rugas que a idade lhe impôs. Nem uma coisa nem outra. É um facto que o seu afastamento operava como um tónico rejuvenescedor, porquanto sempre que voltava ela tinha a pele mais lisa, os seios mais firmes, as penas mais macias do que antes. Mas não é um mistério extraordinário. Em cada ano bissexto, na aproximação do primeiro equinócio, Eva ficava em casa e fechava-se no quarto, sem qualquer mobília ou adereço no seu interior. Aí, recolhia-se em posição fetal e envolvia o corpo com as suas asas. Mais tarde ou mais cedo, as penas das asas começavam a ruborescer e, aquando o máximo da incandescência, gerava-se uma ignição e todo o corpo era consumido por labaredas. Ela desfazia-se em cinza. Pouco depois renascia da fuligem. Este ciclo foi interrompido quando, numa ocasião, imediatamente após uma das incinerações de Eva, Miquelina Abóbora dos Santos, a mulher que cuidava da higiene da casa, contrariando o que lhe havia sido ordenado, entrou no quarto e decidiu recolher a cinza, para a despejar na sanita. No instante em que accionou o autoclismo disse hei-de acabar com este espectáculo de variedades ambulante, o que denunciou a existência de motivação em tal acto. Porém não se sabe de que fundamento, se passional, se genocida.

referência

16 março, 2008


Livrete dos anjos sujos

# viii
. Ela finge ter pavor de borboletas e de homens mais velhos, fingimento que, porque não percebida a simulação, foi diagnosticado como síndrome de renúncia a Набоков pelo alienista convocado para apreciar o seu caso. Mais do que consequência de engano, o diagnóstico foi produto de incompetência. É que, desde criança, Simone Fischer apanha borboletas pelo gozo tão perverso quão simples de tocar-lhes as asas, sentir a deterioração das escamas delicadas que as compõem e, deste modo, tornar impossível que voem novamente. Enquanto operação de humilhação, o mesmo sucede com os homens mais velhos. Desde o início da adolescência que ela seduz incautos, sobretudo através da exibição da sua plumagem alva e sensual. Pelo que, mais tarde ou mais cedo, se a oportunidade propicia, os homens cedem à tentação e estendem a mão para tocarem-lhe as penas das asas. Entusiasmados, eles tendem a avançar ainda mais nos gestos e, consentido por ela, acabam por copular com a rapariga. Sempre na mesma posição, os homens deitados com o pénis túrgido e ela sentada sobre eles, confrontando-os com os seus olhos. Aparentemente, ela não se presta a rogo. Durante o acto, permite que lhe toquem, que a alaguem com as mãos e os dedos em mais do que carícias e geme e manobra o corpo como alguém absoluta e exclusivamente entregue ao ofício da paixão, o que tende a ter como efeito a intensificação da excitação dos homens. Porém, percebendo a aproximação do clímax deles, porque a maior parte começa a arfar, a emitir grunhidos mais graves e a aumentar a cadência de palavras ordinárias, Simone agita freneticamente as asas até levitar, desembainha os homens de si e, assim, impede-lhes a consumação do êxtase. Mais. Enquanto paira acima deles, diz-lhes, com escárnio e gozo cruel, a minha carne tenra não é para velhos. Do que resulta que, em todas as circunstâncias em que adoptou este comportamento - com homens mais velhos foi sempre -, ela nunca testemunhou qualquer purga de sémen. Nas circunstâncias referidas, o único branco alguma vez testemunhado por si foi o das suas plumas imaculadas, nenhum outro.

referência

09 março, 2008


Livrete dos anjos sujos

# vii
. Lois Strauß tinha dificuldade em suportar as alusões ao facto de ter o nome semelhante ao da namorada do Superhomem. Quando a abordavam na leitaria e faziam menção ao caso, era raro não haver leite derramado e lágrimas sobre ele. Mas acaso lhe perguntassem se conseguia voar, então, o assomo de fúria e raiva era ainda maior. Sou uma pessoa normal, tão normal quanto pode ser uma mulher com asas nesta sociedade recreativa, chispava ela em reacção, lançando a mão sobre a garrafa com o leite, para a agarrar e, sem mais dizer, abandonar o estabelecimento. Por gozo e obscurantismo, os outros chamavam-lhe traça.

referência

2006/2022 - Eliz B. (danada composta e padecida por © Sérgio Faria).