<body><script type="text/javascript"> function setAttributeOnload(object, attribute, val) { if(window.addEventListener) { window.addEventListener('load', function(){ object[attribute] = val; }, false); } else { window.attachEvent('onload', function(){ object[attribute] = val; }); } } </script> <div id="navbar-iframe-container"></div> <script type="text/javascript" src="https://apis.google.com/js/platform.js"></script> <script type="text/javascript"> gapi.load("gapi.iframes:gapi.iframes.style.bubble", function() { if (gapi.iframes && gapi.iframes.getContext) { gapi.iframes.getContext().openChild({ url: 'https://www.blogger.com/navbar.g?targetBlogID\x3d30818736\x26blogName\x3dO+livro+dos+livros\x26publishMode\x3dPUBLISH_MODE_BLOGSPOT\x26navbarType\x3dBLUE\x26layoutType\x3dCLASSIC\x26searchRoot\x3dhttps://o-livro-dos-livros.blogspot.com/search\x26blogLocale\x3dpt_PT\x26v\x3d2\x26homepageUrl\x3dhttp://o-livro-dos-livros.blogspot.com/\x26vt\x3d-8113587172936006675', where: document.getElementById("navbar-iframe-container"), id: "navbar-iframe" }); } }); </script>
O livro dos livros

Histórias e revisão de histórias, por Eliz B. 

29 março, 2009


O livro das continuações

# xvi


Apesar de toda a sinceridade que tento, agora tenho medo de dizer que ouço vozes. Se o dissesse, pensariam que sou ou estou doida, olhariam para mim como alguém que precisa de arranjo. Não preciso. A loucura é outra coisa. Sofro apenas uma espécie de iluminação nocturna a que já me habituei e à qual chamo inquietude. __________ Ouvir vozes pode ser entendido como efeito de uma perturbação, sei. Mas ouvir vozes não é pior do que escutar o eco da solidão. Para além disto, gosto de sentir a minha solidão povoada, agrada-me sentir o corpo a estremecer devido às vozes que ouço. Creio que, mais do que uma agitação, algo estranho, tal é um modo de me despertar, é uma prova de que estou viva. É verdade que, às vezes, ao mesmo tempo que ouço as vozes, sinto que está a chover dentro de casa. No entanto não saio de casa. Sair, mormente sair por estar a chover dentro de casa, seria tentar fugir de mim, desencarcerar-me da identidade em que estou conjugada, afastar-me do espaço a que, pela habitação, pertenço. Não renuncio ao que sou, não tenho necessidade de procurar-me em objectos diferentes, em reflexos ou nas sombras da rua. Não estou perdida ou dissoluta, ouço vozes, apenas isso. Pelo que, caso sinta precisão de procurar-me, sei que, na hipótese mais tardia, haverei de encontrar-me através do choque com as paredes da minha casa. É aí, dentro, que procurarei um modo de evitar a chuva que cai sobre mim. Porque não admito e não quero admitir que a chuva lave as vozes que ouço. A loucura é outra coisa, não ter nexo.

referência

15 março, 2009


O livro das continuações

# xv


A loucura é outra coisa, não ter nexo. Não é isto o que me acontece muitas vezes, cada vez mais, em consequência do enredo da tua ausência. Porque exijo a sinceridade também para mim, vou ser sincera contigo. Ocasionalmente és o sopro que, com a distância, me quieta as mãos. Sopro, só isso, não és matéria, algo com densidade e presença. Funcionas assim, vago. Se detenho as minhas mãos, sobretudo a mão direita, no vício do tabaco é para que, comigo embargada pelo consolo da nicotina, os andaimes que escoram o vazio feito por ti no esgoto do meu peito não me magoem. Aspiro o mal incensado na mortalha como penitência. A loucura é outra coisa, repito. _______________ Histerese é o que sofro, mal que, com a sua demora, o tempo há-de curar. A minha distância a ti é um exercício livre. Sofro-a sem tormenta e sem paixão, como acontecimento. É semelhante à fuligem primaveril, aos primeiros dias de calor morno, interrompidos pela morte da tarde. Algo que acontece porque tem de acontecer. __________ Digo-te ainda que sinto-me suja e compreendo a dúvida do que sinto. Pela metamorfose da distância a ti, cresceram-me asas. Agora sou um insecto, talvez uma mariposa, sou um pássaro, sou ninguém. Por causa do sexo, não posso ser anjo. Não me incomoda. A impossibilidade disso combina com a minha vontade. Sabes?, não quero voar, quero continuar.

referência

01 março, 2009


O livro das continuações

# xiv


Estou na dobra dos dias, entregue à demora que posso observar desde esta janela. Os sinais, mesmo os sinais pequenos, não chegam aqui. Há algo no universo, uma força, uma função, uma vontade, não sei o quê, que me adia para tarde, que me pede mais horas, que me obriga a esperar, como se eu pudesse continuar à espera dos sinais que não chegam. Não, não posso. Sinto a pressa dos lavores, não a posso trair. Nunca quis ser como tu, nunca. Faço as coisas mais devagar. Às vezes demoro à janela, a espreitar a luz a desfiar-se em tempo, só isso. Porque assim, pelos farrapos de tempo que espreito, quieta, consigo afastar-me de ti, da tua circumpresença, e continuar mais certa, sozinha.

referência

2006/2022 - Eliz B. (danada composta e padecida por © Sérgio Faria).