26 novembro, 2006
Acácia, meu amor
# viii. Às vezes é tudo tão difícil. Agora ainda arde a tarde, mas não demorará a estação das chuvas, que virá demolhar os pastos e alagar as terras. Muitas coisas, então, irão mudar. Permanecerá, porém, o meu afecto à minha guarda, continuarei a ser aqui e a reclamar-me daqui, durante os ainda longos dias da savana. Não fujo do que sou. Vivo também, ai, ai, suspiro, as minhas intermitências.
19 novembro, 2006
Acácia, meu amor
# vii. Aqui, superior, na gávea da savana, guardo-me, não me escondo. É por isso que me pergunto se isto é uma ilusão. Não, não é uma questão de perspectiva. É uma questão de hipótese. Guardo-me verdadeiramente aqui? ou imagino apenas essa guarda? Às vezes temo viver dentro de uma ilusão apenas. Não páro nos semáforos. E, sei, isso é perigoso. Ou será uma ilusão?
12 novembro, 2006
Acácia, meu amor
# vi. O que sonho?, quando sonho. Sonho com o peito saciado e com o domínio dos arredores. Sonho com o corpo retemperado por um tónico suculento de carnes verdes. E quando maior é a vigília, pelo morno da tarde, a aguardar a noite, às vezes sonho em voar, sonho ser uma ave grave. Mas esse é sempre um sonho breve. Porque, mesmo a dormir, ocupa-me a sensação de habitar um ninho em ti, acácia, meu amor.
05 novembro, 2006
Acácia, meu amor
# v. Guarda-me sempre uma dúvida, o que valem os sonhos?, os meus sonhos? Mas não me demoro sob essa guarda. Prefiro ir no sono, até ao outro lado, e permanecer lá, imaginar-me a vencer todos os meus debates com herbívoros, precipitando sobre eles as minhas garras, sentindo a carne a rasgar-se, sentindo o seu sangue quente, a derramar-se, sentindo, depois, esgotar-se o seu estertor. Os meus sonhos repetem-se. Deve ser isso a que se chama instinto.
2006/2022 - Eliz B. (danada composta e padecida por © Sérgio Faria).