29 outubro, 2006
Acácia, meu amor
# iv. Chegam-me vagos, quase murmúrio, os barulhos da savana. Ai, ai... que fadiga. Digo fadiga porque é mais bonito do que dizer preguiça. Em verdade, devia dizer preguiça, indolência, pecado mortal. É isso que eu sou, embora não sempre. Às vezes corro atrás de carne. Porém não corro por gula. Corro pelo sangue. Ai, ai... que preguiça. Bocejo. Gosto de pensar que esta é a minha estação das esperas. Por isso espero. Vou esperar. Chegam-me vagos, quase murmúrio, os barulhos da savana. A dormência vence-me. Muitas vezes a natureza em mim diz-se letargia. Chegam-me vagos, quase murmúrio...
22 outubro, 2006
Acácia, meu amor
# iii. Perdi o jeito do tempo. Agora corro consoante a necessidade, nem menos, nem mais. Às vezes a velocidade que consigo não é suficiente. Falho. Sinto a derrota. Depois tento novamente, ensaio outra corrida. Tantas vezes quanto as que forem necessárias. Mas o recobro é sempre sobre a fibra áspera e alta do ramo que me segura. Subo. E espero. Acácia, guarda-me.
15 outubro, 2006
Acácia, meu amor
# ii. O mundo, a savana, é lá em baixo. Eu espero, aqui. Não por é disposição ou mania imperial que estou aqui, mais alto. Sei que não sou pássaro. Mas aqui em cima o sol chega mais cedo. Necessito dos seus banhos para tonificar a preguiça. Aqui o silêncio entranha-se no corpo com mais facilidade e a letargia conquista-me certa. Necessito que ela me tome agora. Porque à noite guia-me a vontade de sangue e tenho que correr.
08 outubro, 2006
Acácia, meu amor
# i. Oiço os acordes e as vozes de Idomeneo. Sonho com o bacorinho, o toucinho selvagem da minha dieta. Não, não me peças para tocar piano. Tenho garras fartas, não consigo. O que quero é dormir a sesta, a tarde morna. Porque sou solitário e, sabes, mais levantado com a noite.
2006/2022 - Eliz B. (danada composta e padecida por © Sérgio Faria).