01 março, 2009
O livro das continuações
# xiv
Estou na dobra dos dias, entregue à demora que posso observar desde esta janela. Os sinais, mesmo os sinais pequenos, não chegam aqui. Há algo no universo, uma força, uma função, uma vontade, não sei o quê, que me adia para tarde, que me pede mais horas, que me obriga a esperar, como se eu pudesse continuar à espera dos sinais que não chegam. Não, não posso. Sinto a pressa dos lavores, não a posso trair. Nunca quis ser como tu, nunca. Faço as coisas mais devagar. Às vezes demoro à janela, a espreitar a luz a desfiar-se em tempo, só isso. Porque assim, pelos farrapos de tempo que espreito, quieta, consigo afastar-me de ti, da tua circumpresença, e continuar mais certa, sozinha.
2006/2022 - Eliz B. (danada composta e padecida por © Sérgio Faria).