10 maio, 2008
O livro das continuações
# ii, cinquenta dias depois
Já não abrimos o frigorífico há muito tempo. Dói-nos o cotovelo de tanto levantarmos o braço direito para assinalarmos perfunctória e solenemente a nossa fome. Até é provável que a validade dos iogurtes já tenha expirado. Estamos cansados de passar o pano sobre os jogos psicológicos, sobre as perdas e os ganhos do corpo a corpo, sobre as esperas. Os brinquedos estão a apanhar pó sobre a cómoda, estás a ver?, o napperon está encardido. O tempo está a passar. Deveria haver uma agência de salmos, para que não fosse necessário procurá-los em páginas de papel de bíblia. O tempo passa. Ainda há quem mantenha o olhar embrulhado. Os pés não têm escrúpulos, pisam. Talvez a modernidade esteja a ficar fora de moda. Talvez tenhamos que avançar, subir escadas, assentar melhor os pés sobre as coisas.
2006/2022 - Eliz B. (danada composta e padecida por © Sérgio Faria).