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O livro dos livros

Histórias e revisão de histórias, por Eliz B. 

08 julho, 2006


O livro das fugas


i. A diferença

A liberdade é o outro lado, disse Donato. Mas, reagiu Leopoldo, às vezes é sobre o limite da liberdade, no limiar que separa e encontra este e o outro lado, que é bordada a vida. Donato pensou durante um instante sobre o significado de tais palavras. Embora não concordasse com o seu interlocutor, procurou um ponto de intercessão com ele. Concorda comigo, então, num pormenor: a paisagem da liberdade é composta por dois lados, desafiou Donato. Leopoldo, sim, concordo, anuiu. Mas, acrescentou de imediato, no entanto, a paisagem da liberdade não é composta apenas por esses dois lados. Para além dos lados, um e outro, há necessariamente o que os faz, há a linha que os aparta. E essa linha é ainda território possível de vida, de liberdade. Donato tinha dificuldade em acompanhar o raciocínio do companheiro. Sabia pela sua prática que o fulgor dos livres lhe chegava quando se atrevia a ir para além do que estava estabelecido. A condição de solto sentia-a quando se livrava das convenções e calcorreava domínios que, aplacados pelos medos ou pelos modos, outros não ousavam pisar. Por isso, não consigo compreender o alcance da sua lucubração, insistiu Donato. Para mim, a liberdade é depois dessa linha, porque antes é o cativeiro. O que significa que essa linha é como uma porta. Vista de cá é a saída para a liberdade, vista de lá é a entrada para o cativeiro. Daí que essa linha não seja, por não poder ser, chão de liberdade, mas seja uma zona de transição ou, se preferir, uma twilight zone. Fez-se um longo silêncio de desacordo entre ambos. Continuaram a andar, marcando Leopoldo a direcção, o sentido e o ritmo dos passos. Ao aproximarem-se do limite do campo, Donato começou a sentir o apelo do outro lado. O sopro selvagem que residia nele havia despertado. Leopoldo logrou sustê-lo ali, embora caldeasse em Donato uma vontade indómita de liberdade. Leopoldo disse, olhe, vê?, apontando para um pormenor da cerca que estava diante deles. Donato confirmou, vejo. Ambos, detidos, olhavam um segmento do arame tenso que marcava o interior e o exterior daquele campo. Vê?, continuou Leopoldo, o mesmo detalhe que nos pode rasgar a carne, a farpa, é também o apoio para outros fios. Como a aranha fez, é possível trabalhar o limite - que é diferente de trabalhar sobre o limite -, utilizando-o para estender a liberdade. Na prática, ao trabalhar-se o limite, o que para alguns parecerá apenas submissão, é possível almofadar e, assim, anular o que é aguilhão e motivo de dor para o nosso corpo. Leopoldo tornou a apontar para o pormenor que observavam, como que a antecipar a confirmação das suas palavras, trabalhar o limite, no limite, torna possível tecer e suportar um edifício, uma vida. Donato discordou, isso seria possível se fôssemos pequenos como um insecto, mas, como não somos, não é possível. Leopoldo tentou encontrar-se com o argumento do outro, falta-nos crescer, não é?, para conseguirmos ser mais pequenos, de um tamanho livre. Donato não respondeu. Entretanto intensificara-se-lhe mais ainda o instinto e, súbito, saltou para o outro lado. Correu. Naquele momento Leopoldo ficou atónito. Depois, já recuperado da admiração, assentou de modo firme as mãos sobre o arame farpado, apertou-as para ali sentir-se seguro, e ficou a testemunhar a fuga de Donato. Enquanto ele se afastava, Leopoldo começou a sentir as suas mãos a aquecer. O sangue escorria. Um vulto desvanecia-se no horizonte.


2006/2022 - Eliz B. (danada composta e padecida por © Sérgio Faria).